sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

A homofobia em 2013 prestando contas.


Com as mãos sujas de sangue e o olhar dissimulado.

Tenho visto nos últimos meses uns boletins com prestação de contas do trabalho que vem sendo desenvolvido por alguns gestores públicos que tratam da promoção do direito e da cidadania de LGBT.

Seria muito boa esta prestação de contas se o conteúdo fosse melhor do que o que vem sendo apresentado. Vejo alguns relatos com o seguinte teor: "Palestra realizada pela servidora tal na cidade de tal, sobre conceitos e princípios de diversidade sexual." "Abertura da Semana da Diversidade Sexual na cidade de tal", "Curso a distância para servidores públicos sobre diversidade sexual" e la nave va.....

Para mim, tudo que é feito neste sentido é perfumaria, por mais boa vontade - e até mesmo com má vontade - que se tenha para realizar um trabalho desta envergadura. Num país onde são cometidos 44% dos crimes de homicídio contra LGBT no mundo por razões de homofobia as prioridades deveriam ser: a segurança pública, a prevenção, o combate, o policiamento ostensivo, o acolhimento de desabrigados e abandonados pelos próprios familiares, a redução da violência policial mediante repressão interna da corporação, a redução da impunidade e la nave va.....

E isto requer grana, gente especializada e com vontade de pôr a mão na massa. Este problema não é enfrentado com ativismo público de gabinete nem com discurso romântico de união estável.

Falta seriedade para enfrentar e resolver o problema da violência homofóbica. Não há lei que criminaliza a homofobia no Brasil e o Congresso não quer aprová-la, por orientação do Poder Executivo Federal que tem rabo preso com os evangélicos papa niqueis.  Em São Paulo - estado onde moro - não há política de segurança pública voltada para prevenir nem para reduzir a violência homofóbica. 



https://www.facebook.com/photo.php?fbid=488846887898575&set=a.367019576747974.1073741827.100003198058432&type=1&relevant_count=1

Mas não é só lei que está faltando. Falta polícia com vontade de reprimir, investigar e prender os homofóbicos, assim como falta promotor para denunciar e juiz para condenar e colocar na prisão. Falta um kit anti homofobia, vídeo de prevenção de HIV/AIDS para gays no carnaval e tudo o mais que o governo Dilma anda boicotando.  

Aí surge, como sempre, o contraponto da história pseudo modernosa da redução do direito penal, transformando cadeia em cesta básica para orfanato. Isto é mais oportunismo político que outra coisa. Pergunte para os negros e para os judeus se eles querem mudar a lei CAO e transformar pena de prisão por racismo em prestação de serviços à comunidade. Pergunte às mulheres organizadas se elas querem alterar a Lei Maria da Penha.

Então, o que se faz é a tal perfumaria: curso para isto, curso para aquilo, palestra de capacitação, atendimento jurídico para propor processo administrativo para multar empresários que não atendem direito os clientes LGBT, e la nave va... Tapar o sol com a peneira.

Agora, no apagar de 2013, fiz uma pequena pesquisa dos crimes reportados no site QUEM A HOMOTRANSFOBIA MATOU HOJE sobre mortes de LGBT no Estado de São Paulo.

Considerando que o levantamento existente no site está sujeito à atualização, julgo que se trata de um levantamento precário e incompleto. Isto quer dizer que ainda vai ter mais cadáveres desfilando neste relatório. Presto aqui uma homenagem às suas memórias, pois foram vítimas da barbárie do fundamentalismo religioso e do plano de se manter no poder a custa de seus sacrifícios.

Eis a prestação de contas da Homofobia para os parlamentares do governo e da oposição, para os evangélicos e outras denominações fundamentalistas, para os homo e heterossexuais que fingem que este problema não é deles e que não estão nem aí com a hora do Brasil. Todos estão com as mãos sujas de sangue e com o olhar dissimulado.

Gostaria que os gestores públicos informassem ao menos qual o andamento que foi dado a estes casos junto a polícia civil e no judiciário. Acho que seria uma boa prova que ao menos o perfume é de qualidade.



FEVEREIRO DE 2013
     1)    Layla – Trans – Capital - SP

     
     2)    F E S – Trans – Cabreúva – SP

  
     3)    Valdir José Martins – Gay – Marília – SP


ABRIL DE 2013
   
     4)    Adriano Robson de Bueno – Gay – Piracicaba – SP


     5)    Trans – São José do Rio Preto – SP


JUNHO DE 2013
     
     6)    Dany – Trans – Campo Limpo Paulista - SP


AGOSTO DE 2013

     7)    Leonardo Stantelu – Gay – Capital


SETEMBRO DE 2013

     8)    Angelo Boin Netto – Gay – Presidente Prudente - SP


DEZEMBRO DE 2013

     9)    Gabriel Spanic – Trans – Joaquim Egídio – SP


quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A CRIMINALIZAÇÃO DA HOMOFOBIA SOFRE DURO GOLPE NO APAGAR DE 2013.


Bichas burras se fuderam e vão continuar morrendo.

Para começar bem 2014, o fundamentalismo religioso e o conservadorismo de direita e de esquerda higienizaram o Senado enterrando de vez o PLC 122/06 para facilitar as eleições que virão.

Anteontem, dia 17 de dezembro, a Comissão de Direitos Humanos do Senado votou pelo apensamento do PLC 122 ao projeto de alteração do Código Penal. Como já escrevi anteriormente, dia 17 de dezembro é um dia ruim para mim, mas como dizem as bibas, abafa o caso (clique aqui se você for muito curioso).



O que isto quer dizer?
Que o projeto de lei que criminaliza a homofobia deixou de tramitar sozinho, como vinha fazendo desde sua apresentação, há dez anos. Ele agora está apensado ao projeto de reforma do Código Penal, que salvo engano não será votado a curto ou médio prazo. Em outras palavras, ele será esquecido, arquivado, ignorado. E com ele irá para o esquecimento um grande problema que assola a comunidade LGBT que é a homofobia: a violência física e moral, a desagregação familiar, os assassinatos, os suicídios, o preconceito e a discriminação. 

É sempre bom lembrar que em 2012 foram assassinadas 310 pessoas por motivação homofóbica, segundo dados governamentais.



Pela internet, e fora dela, começou uma avalanche de acusações mútuas de militantes do movimento LGBT, pró e contra o governo. Dilma Roussef e o PT são os grandes vilões pelo arquivamento do PLC 122/06, para os que estão associados a partidos políticos de oposição, como o PSOL, PSB, Rede e até o PSDB. Afirmam que se Dilma quisesse o PLC 122 seria votado e aprovado, mas como ela não quer, pois tem compromissos com os evangélicos fundamentalistas que compõem sua base de governo, então nada se faz pelos direitos de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais.

Eu também acho que isto poderia acontecer, se houvesse vontade política, mas nunca aconteceu antes, quando Lula era presidente em dois mandatos, assim como não aconteceu quando FHC era presidente em dois mandatos. Dá para imaginar o que vai acontecer no próximo mandato, se Dilminha for reeleita? 



Mas eu não faço campanha contra ela não. O Serra é um amigão do Malafaia e sua campanha em 2010 provocou um estrago muito grande para os movimentos sociais de LGBT e de mulheres. Outra opção seria Marina Silva, mas ela é uma evangélica explícita que até ontem era contra o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, sem saber bem o que era isto. Alguém acredita em Aécio? Vamos conversar, né?

O fato é que a agenda LGBT é igualzinha à agenda do aborto das feministas, nenhum político quer pôr a mão, pois tem medo de não ser reeleito. E caem na chantagem dos papa níqueis fundamentalistas.

O resultado da votação da Comissão de Direitos Humanos do Senado só confirma um fato: o movimento LGBT não pode contar com os partidos políticos, ele tem que pressionar, e pressionar e pressionar. Ir às ruas, fazer manifestação, expor os homofóbicos e denunciar os ladrões homofóbicos. Que junho passado nos sirva de inspiração. 

Os senadores Aloísio Nunes do PSDB de São Paulo e Lindberg Farias do PT do Rio de Janeiro não são evangélicos, mas são primo irmãos destes daí. Os políticos evangélicos fundamentalistas, que atuam contra os LGBT tem em comum uma coisa com os dois senadores: envolvimento com denúncias de corrupção.

Lindberg Farias coleciona ações judiciais de improbidade administrativa e compra de sentença judicial. Aloisio tem seu nome envolvido no propinoduto tucano que roubou mais de um bilhão dos cofres do governos do Estado de São Paulo e em 2010 foi acusado de envolvimento do caso Paulo Preto.

Já que não dá para convencer estes políticos de que direitos sexuais são direitos humanos e ninguém pode sofrer por ser LGBT, então o movimento LGBT precisa abraçar a causa da moralidade pública e expor a roubalheira que evangélicos fundamentalistas, e seus similares genéricos como Aloisio Nunes e Lindberg Farias estão envolvidos. Assim, mataremos dois abutres com uma cajadada só.

Higienização por higienização, não basta a falácia da homoafetividade conservadora e heteronormativa. Temos também agora que nos levantar contra a corrupção, para assim varrer os homofóbicos do Congresso Nacional.

Por fim, para de vez acabar com a xingação mútua dentro do movimento LGBT, segue um levantamento sobre os votos e os partidos políticos na sessão da Comissão de Direitos Humanos do Senado que enterrou o PLC 122. Tanto a direita, quanto a esquerda merecem o nosso repúdio.

Este levantamento é simples e objetivo. Visa  demonstrar a responsabilidade dos partidos políticos com a causa da criminalização da homofobia mediante o número de votos pró e contra a apensação do PL 122/06. Importante notar que partidos da oposição como PSDB e DEM não tiveram um único voto contrário à apensação, o que confirma que o conservadorismo e o fundamentalismo religioso influenciam as escolhas e ações da oposição. 

Pela esquerda o PC do B, legenda de Toni Reis, absteve-se de votar contra a apensação, o que é também uma traição para a comunidade LGBT. O óbvio é que o movimento LGBT caminha sozinho e solitário, mas as lideranças ainda não se deram conta disto, ou não querem fazê-lo.


PARTIDOS QUE VOTARAM MAJORITARIAMENTE CONTRA A APENSAÇÃO
PT – 4 votos contra a apensação, 1 voto a favor, 1 abstenção;
PSB – 3 votos contra a apensação, 1 voto a favor;
PV  e PSOL – 1 voto cada partido contra a apensação, nenhum voto a favor.

PARTIDOS QUE VOTARAM  MAJORITARIAMENTE  A  FAVOR  DA  APENSAÇÃO
PSDB – 8 votos a favor da apensação, nenhum voto contra;
PMDB – 5 votos a favor da apensação, 2 votos contra;
PR –  4 votos a favor da apensação, 1 voto contra;
DEM – 2 votos a favor da apensação, nenhum voto contra;
PDT e PTB – 2 votos cada partido a favor da apensação, nenhum voto contra;
PP, PRB e PSD - 1 voto cada partido a favor da apensação, nenhum voto contra .

OUTROS CASOS
SENADOR CRISTOVAM BUARQUE sem partido votou a favor da apensação e
PC do B – nenhum voto a favor ou contra a apensação, 1 abstenção.


sábado, 14 de dezembro de 2013


Sonho americano? Conheça 10 fatos chocantes sobre os EUA

Foi publicada na Revista Forum desta semana uma matéria com o mesmo título acima  (clique aqui) trazendo um rol de 10 fatos que contrariam a idéia tão propagada pelos próprios Estados Unidos de que são os grandes defensores das liberdades, a nação com melhor qualidade de vida no planeta e que nada é melhor do que o "american way of life".

Como se vê, a realidade se mostra outra. Para mim, o efeito mais dignificante é o de poder desmitificar e desmascarar e, ao mesmo tempo, acabar de vez com nosso atávico complexo de inferioridade. Eis os fatos sobre os EUA: 

     1.   Maior população prisional do mundo;

     2.   22% das crianças americanas vive abaixo do limiar da pobreza;
     
     3.   Entre 1890 e 2012, os EUA invadiram ou bombardearam 149 países;
     
             4. Os EUA são o único país da OCDE que não oferece qualquer tipo de subsídio de maternidade;

     5.   125 norte-americanos morrem todos os dias por não poderem pagar qualquer tipo de plano de saúde;

      6.     Os EUA foram fundados sobre o genocídio de 10 milhões de nativos. Só entre 1940 e 1980, 40% de todas as mulheres em reservas índias foram esterilizadas contra sua vontade pelo governo norte-americano;

      7.     Todos os imigrantes são obrigados a jurarem não ser comunistas para poder viver nos EUA;

      8.     O preço médio de uma licenciatura numa universidade pública é 80 mil dólares;

      9.     Os EUA são o país do mundo com mais armas: para cada dez norte-americanos, há nove armas de fogo;
     
     10.  Há mais norte-americanos que acreditam no Diabo do que os que acreditam em Darwin;






domingo, 8 de dezembro de 2013

Promotor público que não tem medo de skinheads agora enfrenta os trens descarrilados pela corrupção.




menu variado: de skinheads carecas do ABC a políticos tucanos. 



A primeira vez que vi Marcelo Milani foi no Tribunal do Júri do Fórum da Barra Funda, em São Paulo. E isto lá vai para 11 anos, em 2002, quando assisti ao julgamento dos skinheads que lincharam e mataram Edson Neris em fevereiro de 2000, na Praça da República.

croqui do local do crime constante do laudo
soco inglês usado para espancar Edson Neris




















Eu estava acompanhado de Beto de Jesus, então Presidente da Associação da Parada do Orgulho Gay de São Paulo, e de alguns outros militantes do movimento LGBT. Milani foi simpático comigo ao ser apresentado e conversamos rapidamente sobre a movimentação da imprensa e o interessa da opinião pública no caso. Um sujeito bem tranquilo, bonachão e de fala mansa.

Mas, logo que começou a sessão de julgamento Milani transformou-se em outra pessoa. Falava alto e firme e  exibia, uma após outra, as provas do crime aos jurados: soco inglês, porrete, botas com bico de ferro, fotos etc. Mostrava de maneira contundente as marcas da violência que haviam ficado no corpo de Edson Neris. Deixou claro que ele fora abordado de forma covarde e não teve nenhuma chance de esboçar qualquer reação. Milani vociferava contra os réus ali presentes, encarando-os e apontando o dedo em riste. Senti me representado por um membro do Ministério Público que buscava a condenação daqueles monstros covardes e canalhas. O juri condenou 8 dos réus que foram presos e cumpriram pena.


acusados pelo crime
acusados pelo crime




Numa segunda vez que o encontrei, novamente na companhia de Beto de Jesus, foi em situação totalmente diferente. Estava passeando na praia de Boracéia, em São Sebastião, e parei para almoçar num restaurante de beira de estrada. Marcelo Milani estava lá numa mesa ao lado.  Tranquilo, de bermudas, sandálias, acompanhado de familiares, num mês de janeiro escaldante. Falamos de amenidades num encontro rápido, que nada lembrou o aguerrido promotor público, caçador de skinheads neonazistas assassinos.

O tempo passou e não tive mais notícias do promotor público.

Mas, recentemente, com o estouro do escândalo da formação de cartel pelas empresas que participam das obras do Metro de São Paulo, envolvendo políticos do PSDB de São Paulo, escândalo este que começou no governo de Mário Covas no final da década de 90 e chega até os dias de hoje, ressurge a figura de Marcelo Milani. Ele é o encarregado das investigações realizadas pelo Ministério Público do Estado de São Paulo.

É certo que o Ministério Público de São Paulo tem recebido acusações de não ter dado importância e celeridade ao caso, cujos processos se arrastam há anos. Porém, graças às ações de órgãos federais, como o Cade e a Polícia Federal, novas luzes estão surgindo, para esclarecer o envolvimento de servidores públicos, empresários e, principalmente, políticos do PSDB de São Paulo. Nesta semana as autoridades da Polícia Federal fizeram declarações no sentido de que as investigações devem ser enviadas para o Supremo Tribunal Federal, uma vez que mencionam políticos com privilégio de foro. 

O caso envolve as empresas Siemens, Alstom, Iesa, Bombardier, Tejofran, Temoinsa, TTrans e MPE, todas citadas na denúncia apresentada pela Siemens ao Cade.

Os políticos cujos nomes têm sido citados nos inquéritos, de acordo com o material divulgado pela imprensa, são o Senador Aloisio Nunes (PSDB SP) e o deputado federal Arnaldo Jardim (PPS SP). Outra pessoa citada é o secretário estadual tucano José Anibal. Houve também o indiciamento do vereador igualmente tucano Andrea Matarazzo. Tem acusação aí para todo mundo neste ninho. 
  
Marcelo Milani declarou recentemente que o governo estadual de São Paulo pagou mais para reformar trens velhos de 40 anos de uso, do que teria investido se comprasse trens zero quilometro. O superfaturamento teria alcançado mais de um bilhão de reais.

Torço para que esta investigação tenha o mesmo sucesso que Milani obteve com a condenação e prisão dos skinheads do ABC. A principal diferença entre os dois casos é que agora a briga é de cachorro grande. 



sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

REDUÇÃO DE 14% NOS CRIMES HOMOFÓBICOS NOS EUA SEGUNDO O FBI.



CRIMES DE ÓDIO CONTRA LGBT NOS EUA E NO BRASIL

Segundo notícia veiculada pelo Boletim da  Matthew Shepard Foundation (clique aqui) o FBI divulgou esta semana estatísticas de crimes homofóbicos nos EUA em 2012.

Segue abaixo uma tradução livre do texto do boletim.

Embora o relatório registre redução de 14% do número de crimes notificados com motivação na orientação sexual da vítima em  comparação com 2011, a fundação adverte que há uma sub-notificação que a cada 3 crimes efetivamente ocorridos, somente 1 deles é notificado. Outra informação apurada é que 54% das vítimas é de gays.

A situação brasileira está muito aquém no combate e repressão à homofobia. Mal conseguimos organizar o movimento LGBT para que exerça pressão junto a parlamentares visando aprovação do PLC 122 que criminaliza os crimes de ódio. Muitas bichas continuam alienadas, batendo o cabelão na buatchy e, se bobear, com discurso conservador e discriminatório. 

Os acordos políticos dos governos federal e locais privilegiam a concessão de poderes na administração pública, inclusive na execução de orçamento, para interesses de grupos conservadores de fundamentalistas religiosos que ostensivamente fazem campanha homofóbica e incitam a violência impunemente, sem falar no bacanal que é a distribuição de concessão de emissoras de TV e rádio para estes papa niqueis. O poder judiciário e o ministério público calam se diante deste abuso.




Além disso, o órgão responsável pela apuração e levantamento dos crimes homofóbicos não é um órgão concebido para esta atividade, que deve ser essencial e tecnicamente de segurança pública. Por mais esforço e boa vontade que tenham hoje a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e seu serviço de Disque 100, os índices indicativos produzidos são precários e os recursos são escassos. Vontade política não existe e Maria do Rosário está isolada no próprio governo. Quero ver quando ela sair, para concorrer às eleições no ano que vem, quem vai pegar o abacaxi.

A sociedade brasileira e em especial a comunidade jurídica está mais sensibilizada para a aceitação e aprovação do casamento monogâmico, heteronormativo e "homoafetivo" entre pessoas do mesmo sexo, típíco da classe média conservadora, do que para a redução dos assassinatos e outros crimes violentos contra LGBT por motivação homofóbica. Em 2011, por exemplo, o Brasil coleciona 310 vítimas fatais (clique aqui para ler o relatório da SDH).

E isto é só o começo. Ano que vem tem eleição, preparem-se para aquela vergonha de campanhas que usam o aborto, o casamento gay e a adoção de menores por casais do mesmo sexo para disseminar o ódio, o medo e o preconceito. 





"Crimes de Ódio contra LGBT para baixo, mas não para fora.

 O FBI divulgou recentemente as estatísticas de crimes de ódio denunciados em 2012. Embora tenha havido uma pequena redução no número de crimes,  ainda 1.318 crimes motivados pela orientação sexual da vítima foram relatados ao FBI por agências policiais locais.

Estes números representam uma redução de 14 % em crimes motivados pela orientação sexual da vítima em comparação com aqueles denunciados em 2011. Embora esta seja uma tendência positiva, temos que ter em mente que um relatório do Departamento de Justiça sobre como relatar os crimes de ódio estima que apenas um em cada três crimes de ódio é notificado à polícia.

O relatório do FBI mostra 6.718 crimes de ódio voluntariamente notificados à agência por órgãos policiais, envolvendo um total de 7.151 vítimas. A maioria (54 por cento) das 1.318 vítimas alvo era de orientação sexual gay. Cerca de um terço dos casos foram ataques físicos, outro terço eram intimidações e o terço restante eram vandalismo ou danos materiais.

O FBI alertou que as comparações ano -a- ano são difíceis , devido à alteração do número de órgãos policiais que participam a cada ano.

" É encorajador que em todos os momentos estes relatórios anuais mostram uma diminuição da vitimização deliberada das pessoas LGBT ", disse Jason Marsden , diretor-executivo da Fundação Matthew Shepard.


"Infelizmente , a tendência de redução das estatísticas não se traduz em paz de espírito para o elevado número de pessoas cada vez mais aflitas que ainda são emocional, financeira ou fisicamente prejudicadas por esses crimes sem sentido ", acrescentou . "As agências policiais de todos os níveis estão progredindo na abordagem sensível e construtiva destes incidentes, tratados caso a caso. O relatório de hoje deve servir para mostrar não só o seu progresso, mas também a necessidade premente que continua a motivá-lo."

quarta-feira, 20 de novembro de 2013


Cuidado com o fascismo dos religiosos fundamentalistas no Congresso Nacional. O Estado Laico corre perigo.

Não é de hoje que temos denunciado por aqui e pelo Facebook o iminente perigo de um avanço contra o estado de direito pelas forças conservadoras, religiosas fundamentalistas, a fim de que alcancem poder político (e também vantagem econômica), ocupando cargos e funções no governo brasileiro, ou contratações com o poder público. 

Se hoje a situação do reconhecimento dos direitos sexuais de LGBT e dos direitos reprodutivos de mulheres não avançou em nada no governo de Dilma Roussef, é por que este ritmo lento é a paga que ela tem que dar aos evangélicos fundamentalistas. 

Marcelo Crivela, Magno Malta, Silas Malafaia, Marco Feliciano são alguns nomes que não podemos esquecer, pois são inimigos do movimento LGBT e das mulheres. Empresários da fé.

O incitamento à intolerância tem aumentado de maneira exponencial em todo o país e, com ele, os atos de violência e homicídio homofóbico, machismo, violência contra mulheres, agressões físicas e morais contra pessoas de outras profissões de fé e instituições religiosas de matriz africana.

Agora, Frei Betto faz uma importante advertência sobre o risco da fragilização do estado laico e do surgimento do fascismo, com o ovo da serpente que é a bancada evangélica no Congresso Nacional. O post publicado no Blog de Roldão Arruda (clique aqui) a seguir reproduzido traz as informações sobre as advertências do frade dominicano.


Frei Betto defende Estado laico, critica bancada evangélica e lembra o “ovo da serpente”

O Brasil está assistindo ao avanço de partidos políticos que se ligam cada vez mais a segmentos religiosos, o que constitui ameaça ao pluralismo religioso e à democracia. O alerta foi feito pelo escritor e teólogo católico Frei Betto, que chegou comparar esse movimento, de matriz fundamentalista e ainda pouco percebido pela sociedade, ao surgimento do nazismo, na primeira metade do século passado.
“Estamos assistindo a certos segmentos religiosos chocarem o ovo da serpente, expressão que vem do nazismo dos anos 30, na Alemanha: depois que a coisa esquentou é que muita gente se deu conta”, disse o religioso, durante conferência no 9º Encontro Nacional Fé e Política, realizado no final de semana, no campus da Universidade Católica de Brasília (UCB).

“O Estado e os partidos não devem ter religião, mas respeitar a diversidade do pluralismo religioso”, afirmou, diante de quase duas mil lideranças católicas. “No Brasil, determinados segmentos religiosos estão cada vez mais partidarizados. Existe no Congresso Nacional a bancada evangélica. Não tenho nada contra os evangélicos, tenho contra essa bancada.”
Na conferência, proferida no sábado e denominada O Poder na Cultura do Bem Viver, o dominicano, autor de 53 livros, foi enfático: “Precisamos abrir o olho porque está sendo chocado no Brasil o poder fundamentalista de confessionalização da política. Isso vai dar no fascismo.”

De acordo com informações publicadas por Jaime C. Patias, no portal católico Pontifícias Obras Missionárias, o teólogo e escritor disse que a maior experiência de poder na tradição bíblica é a experiência de Jesus: “Quem governa seja como aquele que serve. Esse é o maior testemunho de Jesus. O maior ato de Jesus foi quando ele se ajoelha para lavar os pés dos seus discípulos. Isso é o poder, colocar-se a serviço.”

Frei Betto tem vínculos históricas com as comunidades eclesiais de base (CEBs) e contribuiu para o surgimento do PT – partido do qual se afastou durante o primeiro mandato de Lula.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Lembrando os mortos e desaparecidos

Um ato inter-religioso foi realizado na manhã de sábado, dia de finados, no Cemitério do Araçá, em homenagem aos mortos e desaparecidos no período da ditadura militar. Também foram lembradas vítimas atuais de violência cometidas por agentes do Estado, como Amarildo Dias de Souza. Torturado até a morte por policiais militares do Rio, em julho deste ano, seu corpo ainda não foi localizado.


Entre os religiosos presentes à celebração encontrava-se o cardeal Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo. O ato também contou com a participação do Coro Luther King. 



O ato inter-religioso, oficialmente denominado Pelo Dever e Pelo Direito de Sepultar os Mortos, teve apoio do Conselho Latino Americano de Igrejas, do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs e da Central Única dos Trabalhadores.

Também estavam presentes o Senador Eduardo Suplicy (PT SP), a deputada federal Luiza Erundina (PSB SP), o deputado estadual Adriano Diogo (PT SP) e o vereador Gilberto Natalini (  SP). O prefeito Fernando Haddad (PT) foi representado pelo secretário municipal de Direitos Humanos, Rogério Sottili.

Aqui segue um pequeno video da parte mais emocionante da celebração, que foi a homenagem que os parentes e amigos das vítimas lhes renderam, invocando seus nomes e depositando flores.


Esta é uma ferida que continua aberta na memória do povo brasileiro e somente será possível cicratiza-la com a apuração dos crimes e a penalização de seus autores. Não existe anistia para crimes contra a humanidade, tais como aqueles cometidos pelos algozes da ditadura, do latifúndio e da truculência policial.





sábado, 9 de novembro de 2013

HOMOAFETIVIDADE - PERFUME DESBICHALIZADOR E DESSAPATALIZADOR


Recentemente vi num blog GLS, que tratava de literatura homoerótica, bichosa, viadosa, sapatosa, travestidosa, transvestuda etc e tal, o uso dos seguintes termos: literatura homoafetiva, poética homoafetiva e temática homoafetiva. Quase tive um troço. 

Toda vez que leio ou ouço este termo (homoafetivo) meu corpo sente um calafrio, um arrepio e por fim tenho uma convulsão que atinge até a alma. 

Agora, a homoafetividade virou adjetivo de qualquer coisa relacionada à viadagem e à sapataria. Até as pobrezinhas das irmãzinhas trans, que não tem nada a ver com orientação sexual (o negócio delas é identidade de gênero) estão com a pecha da homoafetividade. 

Conheço uma advogada em São Paulo, especializada em direito viadal, sapatal e transexual, que gosta de chamar gays, lésbicas, travestis e transexuais de "homoafetivos". Que fofo e meigo, não é? 

Já pensou? O cara, ou a cara, é solteiro, ou solteira, não quer namorar, o negócio deles é o bas fond (ou bafão), cinemão, banheirão, sauna, putaria e boite, mas para serem respeitados precisam fazer de conta que tem afeto por outros do mesmo sexo. Uma invenção para batizar, higienizar, moralisar e tornar aceitável a viadagem e a sapataria.

Ninguém merece. Quer dizer que se ele ou ela não casar nem namorar com ninguém, mas só quiser viver de sexo casual, eles não merecem respeito como cidadãos? Que seus direitos sexuais não existem? Só vale se transarem com afeto? Me poupem.

Para mim este termo é como se fosse um líquido desbichalizador, ou dessapatalizador que a gente passa nas partes íntimas, um detergente que perfuma e quer esconder o cheiro do nosso sexo, por que incomoda o narizinho dos heteronormativos. Tão ruim quanto um detergente de banheiro de rodoviária, metrô ou terminal de ônibus.




Nestes momentos eu me socorro do jurista Roger Raupp Rios, num trecho de seu texto As Uniões Homossexuais e a Família "homoafetiva" (clique aqui) que explica bem direitinho o que vem a ser esta monstruosidade ideológica heteronormativa chamada homoafetividade.  


Muita gente que emprega este termo não sabe o seu significado e suas implicações. A comunidade jurídica - por total ignorância é claro - fica repetindo, e até os Ministros do Supremo (STF) o usaram em suas decisões.

Vai dar um trabalho danado ensinar direito sexual. Talvez se passarem a ser chamados de heteroafetivos, mudem de idéia. Conheço muito hetero que não tem afeto nem por si próprio e fica desfilando sua normalidade heterossexual para cima e para baixo sem qualquer  identificação familista ou afetiva. E ninguém tem nada com isto.

Direito Civil é para todo mundo e não tem esta de fazer diferenciação entre afeto de hetero e afeto de gays. Eu acho que o afeto é importante, mas não é o assunto em pauta. O reconhecimento do direito sexual de LGBT (com ou sem afeto) é o que importa. E isto implica em respeito à sexualidade, à identidade, à privacidade. Enfim, à dignidade da pessoa humana.

Depois de  uma breve leitura do texto eu então volto ao meu normal.  Afinal, ninguém é de ferro.

"Neste sentido, sem deixar de reconhecer as intenções antidiscriminatórias presentes na cunhagem do termo, não é por acaso que se disseminou o uso do termo “homoafetividade”. Trata-se de expressão familista que muito dificilmente pode ser apartada de conteúdos conservadores e discriminatórios, por nutrir-se da lógica assimilacionista, sem o que a “purificação” da sexualidade reprovada pela heterossexualidade compulsória compromete-se gravemente, tudo com sérios prejuízos aos direitos sexuais e à valorização mais consistente da diversidade sexual.
Registre-se, por fim, que, em sua manifestação mais direta, este discurso tangencia o conservadorismo, na medida em que a orientação sexual necessita ser “higienizada” de conteúdos negativos (promiscuidade e falta de seriedade) que, a contrario sensu da hegemonia heterossexual, se associam à homossexualidade.
Os riscos inerentes a perspectiva fraca dos direitos sexuais tem relação direta com o contexto jurídico em que proferido o julgamento. Eles se colocam pelo modo como os operadores jurídicos, acadêmicos e a sociedade em geral receberão as conclusões do julgado, mais do que dos termos em que expressos os diversos votos, ainda que, em alguns deles, esta tensão se apresente.
A breve e recente história dos direitos sexuais no Brasil revela a recorrência ao direito de família como fundamentação para o reconhecimento de direitos de homossexuais, fenômeno que designo como “familismo jurídico”."