domingo, 16 de maio de 2010

Friday morreu no sábado, mas na quinta muita gente não foi lembrada

Tenho um amigo que acaba de perder seu cão de estimação, Friday. Já estava velhinho, e tinha paralisia nas patas traseiras, e por isto andava com a ajuda daqueles carrinhos de duas rodas. Friday era chatinho, latia muito, mas também era simpático. Certa vez foi passar um fim de semana na praia e foi divertido. Lula, meu amigo, vai se recuperando da perda e, do jeito que o conheço, logo logo encontrará algo que o faça se sentir melhor e supere este momento ruim. Boa sorte.

A nota de falecimento foi parar até nas listas  de discussão LGBT, e todos estão enviando mensagens de condolências ao dono do bichinho. Mas cão é cão e gente é gente, e a vida continua.

Quinta feira passada, dia 13.05, houve um evento na Assembléia Legislativa, para pressionar o Presidente Lula a exigir respeito aos Direitos Humanos no Irã. Ele foi ao Irã se encontrar com o presidente Ahamadinejad. Quem organizou o evento foi a Frente para a Liberdade do Irã, da qual a organização que faço parte - Instituto Edson Neris IEN é afiliada. Nosso interesse é o de evitar que mais gays morram enforcados ou apedrejados naquele país. No Irã a homossexualidade é crime punível com a execução. Se o cara, ou a cara, não for pego no flagra, então eles podem até liberar, depois de dar 100 chibatadas.

Fiquei desapontado, porém, pois apesar da relevância do trabalho, ainda algumas pessoas do movimento social acham que nós estamos envolvidos e somos usados por grupos de direita. Vejam só. "Tanta coisa para se preocupar aqui, e vocês ficam olhando lá para o Irã, como que estivessem fazendo coro e alinhados com a política de estado dos EUA", dizem eles.

Sinto que sugerem que a melhor estratégia agora é não fazer nem falar nada. A omissão sobre o assassinato de gays no Irã é a melhor política para mostrar que não estamos alinhados com ninguém.

Omitir é aceitar a  homofobia institucionalizada como política de estado em vigor em pelo menos 80 países que criminalizam a homossexualidade, sendo que 5 destes países aplicam a pena de morte: Irã, Mauritânia, Arábia Saudita, Sudão, Iêmen, além de determinadas regiões da Nigéria e da Somália. Recentemente Mawali condenou um casal de gays a 14 anos de prisão por terem se casado em cerimônia pública.




Friday foi e teve um final feliz. Morreu, foi pro céu dos cachorros, está sendo lembrado e pranteado, e vai ter um enterro digno, eu suponho. Talvez até decretem luto oficial na lista do Forum Paulista LGBT.
Gostaria que todos os jovens que apareceram nas fotos ampliadas, fixadas no salão da Assembleia Legislativa, na quinta feira, sendo enforcados e apedrejados, igualmente tivessem a vida de cachorro do Friday.