sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Eu acabo de ganhar um kit Diabetes do SUS. No Canadá assim como no Brasil.

Acabo de chegar do Posto de Saúde daqui do Brás, que fica na Rua Sampson, onde fui retirar meus remédios para tratamento de diabetes. Taí uma doença que é "caba da moléstia" de ruim, por que o organismo não consegue metabolizar o que a gente consome. Então, o açúcar fica sobrando no sangue, que passa por todos os órgãos, provocando sérios problemas de saúde, como os circulatórios, cardíácos, renais. Pode causar cegueira e até levar a amputações.

Quem tem diabetes tá fodido mesmo, pois o pâncreas não consegue produzir insulina que seja capaz de quebrar as moléculas de açúcar do sangue. Às vezes não produz insulina alguma (tipo 1), outras vezes a insulina é muita mas totalmente ineficiente (tipo 2). O metabolismo anda mal e, por causa disso, é preciso ficar medindo o índice de glicemia no sangue (cuja média ideal é de 100 pontos). Uma vez eu cheguei a quase 600, e não sentia nada. O médico do pronto socorro é que teve um troço quando viu o resultado do meu teste. Minha médica fez uma comparação bem didática. Ter diabetes e não cuidar dela é como nunca trocar o óleo do carro. O óleo passa pelo motor, vai ficando sujo e queimado com o tempo e chega uma hora que ele pode fundir o motor.


E a parafernália para acompanhar o tratamento? é uma coisa de louca.
Geralmente o diabético toma um remédio chamado cloridrato de metformina (genérico). Além dele,  no meu caso, tenho também que fazer uma aplicação de dose diária de 30 unidades de insulina humana Humulin nph que, para cada aplicação precisa de uma seringa descartável. Mas não é só, tem também o aparelho medidor da insulina e as suas lâminas, onde são depositadas as gotas de sangue para a medição da glicemia. Para cada teste glicêmico é preciso uma lâmina e uma agulha.


Uma brincadeira dessas, mole mole, para um tratamento como o meu dá uns R$ 300,00 mensais, no mínimo. E não tem exagero algum nesta conta. Se a insulina fosse outra, como a tal de Lanthus, por exemplo, então o valor seria muito mais alto. Aí achei que deveria recorrer ao SUS, que dá tudo de graça: remédios, aparelho de teste, lâminas de teste, agulhas para fazer o furo para o teste, insulina e seringas descartáveis, além dos remédios em cápsulas.



Aqui no Brás está cheio de bolivianos que moram e trabalham na região e o posto de saúde também atende aos nossos hermanos. Crianças bonitinhas, com carinhas de indiozinhos, brasileirinhos filhos de bolivianos, correndo para cima e para baixo. Mulheres morenas, olhos puxados, cabelos longos e negros, algumas gordas e baixas, todas falando um portunhol bem discreto. Se tem um povo discreto, este é o boliviano. Cenas muito agradáveis na tarde desta quarta feira. Uma certa universalização da cidadania.


Esta foi a primeira vez na minha vida de cidadão que saí de um órgão público (feio e xexelento por sinal) com a sensação de que o Estado Brasileiro está me oferencendo algo em troca do meu trabalho e do imposto que pago. E olha que eu sou advogado, e trabalho com direitos humanos. Além de tudo que me deram, ainda veio junto no kit diabetes uma caixa de papelão para eu depositar tudo que for descartado, como agulhas, seringas, lâminas, e depois dela cheia, devo devolver no posto. Saí com sensação de estar no Canadá, onde a saúde é pública e tudo é oferecido ao cidadão de lá gratuitamente.

É claro que tem sempre uns senões. Quando eu fui entregar a documentação exigida, uns dez dias atrás, a atendente disse que havia uma espera de uns 3 meses, o que me brochou um pouco. Mas mesmo assim resolvi dar um crédito, embora desconfiasse que os 3 meses iriam virar logo, logo uns 6 meses. Não foi o que aconteceu, pois a mesma funcionária me ligou rapidamente. Porém, os meus companheiros de insulina e picada que estavam lá no posto de saúde me disseram que eu tive sorte, pois eles estavam esperando o kit diabetes desde julho.

Então a atendente foi truqueira e minha desconfiança que a demora poderia chegar a 6 meses estava correta. No meu caso a sorte foi por que todos que estavam na fila de espera não tinham sido localizados para pegar o kit neste período de festas, e o meu nome, último da fila, foi chamado. Como dizem, a fila tem que andar....

Muito dinheiro no bolso, saúde para dar e vender. Feliz ano novo!