Amigas
e amigos,
Dando satisfação
Como exaustivamente mencionei aqui neste
espaço blogal, foi realizada uma eleição para o preenchimento de vagas no
Conselho Estadual LGBT no último dia 29 de junho, quando concorri à vaga do
segmento gay, pela Macro Região de São Paulo. As eleições foram para as vagas
dos segmentos de lésbicas e gays e não houve candidatos para os segmentos de
bissexuais, travestis e transexuais.
Eu obtive 71 votos, ficando na 3ª. posição no
segmento gay, o que automaticamente me excluiu da disputa. Porém, e sempre tem
um porém, na undécima hora, na véspera das eleições, a Comissão Eleitoral
estabeleceu regras até então inexistentes dispondo sobre distribuição de vagas
para os casos de segmentos sem candidatos. E, assim, pelo resultado divulgado
no dia 1º. de julho sobrou me como prêmio de consolação do acaso a vaga de
suplente do segmento bissexual.
Eu então comuniquei aos meus apoiadores e
eleitores este resultado e disse que não me sentia confortável em assumir um
cargo para o qual não me candidatei. Conselheiro
biônico eu não concordo. A resposta
destes amigos e amigas foi unanime e me deixou à vontade para não assumir ser
suplente de bissexual.
Julgo que
novas eleições devam ser realizadas para o preenchimento das vagas que não
tiveram candidatos, ao invés desta distribuição. Assim o poder público joga de volta para o colo do
movimento social a responsabilidade de assumir a criação da sua própria
representatividade, o que não é papel do poder público fazê-lo.
Isto posto, a partir do dia 13 de julho
comuniquei por duas vezes
à Coordenadoria de Políticas de Diversidade Sexual da Secretaria da Justiça
(Cads) sobre minha desistência de
participar deste processo, tudo por e.mail e bem documentado.
Participação
do eleitorado – legitimidade do Conselho Estadual
O quadro abaixo indica a participação dos
segmentos no processo eleitoral no Estado de São Paulo segundo levantamento paralelo* que eu realizei:
SEGMENTO
|
% DE ELEITORES
|
GAYS
|
57,5%
|
LESBICAS
|
16,9%
|
BISSEXUAIS
|
14,0 %
|
TRAVESTIS
|
3,2 %
|
TRANSEXUAIS
|
3,1 %
|
HETEROSSEXUAIS
|
5,3%
|
O que mais chama
a atenção neste pleito é a pouca adesão e interesse de alguns segmentos, como o
de transexuais e travestis, e a inexplicável crescente participação do segmento
bissexual, que historicamente tem baixíssima atuação de seus quadros de
militantes e de lideranças. A própria
comunidade de bissexuais é quase invisível se comparada com os demais
segmentos.
Nestas
eleições, porém, ela superou em muito os segmentos de travestis e transexuais e
chegou perto das lésbicas, embora somente tenha contado com um único candidato
para todo o estado. Que seja feita uma reflexão e se busque explicação para este “fenômeno eleitoral”.
Quanto às lésbicas, que tiveram participação
menor do que um terço da efetiva presença de eleitores gays, fica a minha
esperança na melhoria de seu protagonismo, haja vista que não lhes faltam
quadros nem tampouco lideranças do movimento lésbico. As regiões de São José do Rio Preto e Santos não tiveram uma única eleitora lésbica. O mesmo se aplica às
parceiras TT, que em Campinas e Taubaté não tiveram eleitoras travestis e Araraquara e Santos não tiveram eleitoras transexuais**. Faltou vontade política ou excedeu descrença no modelo de escolha
do Conselho Estadual LGBT; ou ambas hipóteses.
A participação do eleitorado assumidamente heterossexual de
5,3% indica não haver interesse deste segmento, aqui fora do armário, na manipulação, controle e tutela do
movimento social. E note-se que estes heteros daqui tiveram tratamento diferenciado, sujeitos a um cadastramento anterior, o que prova seu interesse autentico e comprometido em participar do pleito.
* somente
mediante pedido protocolado invocando a lei federal de acesso a informações é que obtive vista da documentação das eleições e assim
pude realizar o levantamento, que aliás não levou mais do que duas horas. Aguardamos o levantamento oficial prometido pela
Cads.
** levantamento paralelo, sujeito a confirmação.