sexta-feira, 26 de julho de 2013

Eleições para o Conselho LGBT - Dando satisfação e refletindo sobre legitimidade.


Amigas e amigos,
Dando satisfação

Como exaustivamente mencionei aqui neste espaço blogal, foi realizada uma eleição para o preenchimento de vagas no Conselho Estadual LGBT no último dia 29 de junho, quando concorri à vaga do segmento gay, pela Macro Região de São Paulo. As eleições foram para as vagas dos segmentos de lésbicas e gays e não houve candidatos para os segmentos de bissexuais, travestis e transexuais.

Eu obtive 71 votos, ficando na 3ª. posição no segmento gay, o que automaticamente me excluiu da disputa. Porém, e sempre tem um porém, na undécima hora, na véspera das eleições, a Comissão Eleitoral estabeleceu regras até então inexistentes dispondo sobre distribuição de vagas para os casos de segmentos sem candidatos. E, assim, pelo resultado divulgado no dia 1º. de julho sobrou me como prêmio de consolação do acaso a vaga de suplente do segmento bissexual.

Eu então comuniquei aos meus apoiadores e eleitores este resultado e disse que não me sentia confortável em assumir um cargo para o qual não me candidatei. Conselheiro biônico eu não concordo.  A resposta destes amigos e amigas foi unanime e me deixou à vontade para não assumir ser suplente de bissexual.

Julgo que novas eleições devam ser realizadas para o preenchimento das vagas que não tiveram candidatos, ao invés desta distribuição. Assim o poder público joga de volta para o colo do movimento social a responsabilidade de assumir a criação da sua própria representatividade, o que não é papel do poder público fazê-lo.

Isto posto, a partir do dia 13 de julho comuniquei por duas vezes à Coordenadoria de Políticas de Diversidade Sexual da Secretaria da Justiça (Cads) sobre  minha desistência de participar deste processo, tudo por e.mail e bem documentado.

Participação do eleitorado – legitimidade do Conselho Estadual
O quadro abaixo indica a participação dos segmentos no processo eleitoral no Estado de São Paulo segundo levantamento paralelo* que eu realizei:
 

SEGMENTO
% DE ELEITORES
GAYS
57,5%
LESBICAS
16,9%
BISSEXUAIS
14,0 %
TRAVESTIS
3,2 %
TRANSEXUAIS
3,1 %
HETEROSSEXUAIS
5,3%


O que mais chama a atenção neste pleito é a pouca adesão e interesse de alguns segmentos, como o de transexuais e travestis, e a inexplicável crescente participação do segmento bissexual, que historicamente tem baixíssima atuação de seus quadros de militantes e de lideranças.  A própria comunidade de bissexuais é quase invisível se comparada com os demais segmentos.
 

Nestas eleições, porém, ela superou em muito os segmentos de travestis e transexuais e chegou perto das lésbicas, embora somente tenha contado com um único candidato para todo o estado. Que seja feita uma reflexão e se busque explicação para este “fenômeno eleitoral”.
 
Quanto às lésbicas, que tiveram participação menor do que um terço da efetiva presença de eleitores gays, fica a minha esperança na melhoria de seu protagonismo, haja vista que não lhes faltam quadros nem tampouco lideranças do movimento lésbico. As regiões de São José do Rio Preto e Santos não tiveram uma única eleitora lésbica. O mesmo se aplica às parceiras TT, que em Campinas e Taubaté não tiveram eleitoras travestis e Araraquara e Santos não tiveram eleitoras transexuais**. Faltou vontade política ou excedeu descrença no modelo de escolha do Conselho Estadual LGBT; ou ambas hipóteses.
 
A participação do eleitorado assumidamente heterossexual de 5,3% indica não haver interesse deste segmento, aqui fora do armário, na manipulação, controle  e tutela do movimento social. E note-se que estes heteros daqui tiveram tratamento diferenciado, sujeitos a um cadastramento anterior, o que prova seu interesse autentico e comprometido em participar do pleito.
 
 
Espero sinceramente que estes problemas sejam superados e o Conselho Estadual LGBT firme-se como órgão de controle social, o que para tanto requer a efetiva participação do movimento social.


* somente mediante pedido protocolado invocando a lei federal de acesso a informações é que obtive vista da documentação das eleições e assim pude realizar o levantamento, que aliás não levou mais do que duas horas.  Aguardamos o levantamento oficial prometido pela Cads.
** levantamento paralelo, sujeito a confirmação.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

QUAL É O PENTE QUE TE PENTEIA?

Este vídeo mostra a opinião firme e segura de uma menina de 10 anos, Júlia Belmont, sobre seus cabelos cacheados. Ele também nos traz a esperança de que há  uma nova geração bem consciente de sua origem, de sua negritude e, principalmente, de sua titularidade de direitos humanos de dignidade e identidade. Além de simpática a nossa Júlia é motivo de exemplo e orgulho para todos e todas que lutam por sua identidade, auto confiança e dignidade.
 
"Apesar de ter apenas 10 anos, ela já mostra que sabe muito bem o que quer. Decidida, Júlia Belmont, dona de uma cabeleira de dar inveja, se recusa a alisar o cabelo, mesmo ouvindo comentários preconceituosos dos amigos na escola. A jovem decidiu contar sua história em um vídeo, que acaba de se tornar o mais novo fenômeno virtual, com cerca de 55 mil visualizações no Youtube.
No vídeo com o título "Júlia ensinando a gostar dos seus cachos", a menina conta que pediu para a sua mãe fazer uma escova, mas, quando viu o resultado, detestou e se sentiu horrível.
"Eu fui numa festa de aniversário e tinha uma menina me chamando de Creusa, só porque o meu cabelo estava armado. E eu adorei o meu cabelo. Sabe o que eu fiz? Deixei para lá, porque eu gosto do meu cabelo do jeito que é. (...) Se você nasceu com esse cabelo, aquele cabelo é pra você", conta ela cheia de atitude.
Fofíssima, Julia diz que aprendeu que é bonita com os cabelos naturais e que nem se abalou quando foi provocada na festa. Uma verdadeira lição de autoestima." (Fonte Revista Afro)


 

domingo, 7 de julho de 2013

MARILENA CHAUÍ fala da “cura gay” e da necessidade de uma profunda mudança antropológica e simbólica para o reconhecimento da identidade LGBT.

'Cura gay', na forma da piada, do sarcástico e do que não se leva a sério, daquilo que se pode brincar e não com a seriedade da sexualidade.

Na quinta feira passada, dia 04 de julho, foi realizado um debate na sede do Sindicato dos Advogados de São Paulo SASP, por iniciativa da tendência  Consulta Popular para discutir as manifestações populares ocorridas no mês de junho e as perspectivas políticas decorrentes.

Os debatedores convidados foram a Professora Marilena Chauí, o advogado e sindicalista Ricardo Gebrim e o jornalista  Alípio Freire. Após as apresentações de cada expositor foram abertas manifestações aos presentes para suscitar esclarecimentos e provocar debates. Eu não perdi tempo e sapequei uma pergunta aos debatedores: como eles entendiam estavam sendo tratados os direitos de LGBT e em especial  o evento da “cura gay” tanto pelas forças progressistas como pelas forças conservadoras no contexto das manifestações populares.  
Fui surpreendido com a resposta extremamente dura, realista e desafiadora que Marilena Chauí me deu. Eis a razão deste post. Ela disse que "o debate sobre o reconhecimento de direitos da comunidade LGBT entrou no contexto das manifestações e protestos de junho passado na sua pior forma possível, que foi através da 'cura gay', na forma da piada, do sarcástico e do que não se leva a sério, daquilo que se pode brincar e não com a seriedade da sexualidade."

Afirmou também que "a repressão sexual contra o reconhecimento de direitos LGBT que a sociedade brasileira à esquerda e à direita, acima e abaixo realiza exige uma mudança cultural no nível antropológico e no nível simbólico. Mudança profunda, uma tarefa, que ela está à disposição no que puder ajudar".
Esta sua resposta reforça a importância da conscientização da comunidade LGBT para que se politize e saiba entender a conjuntura e a reivindicar reconhecimento de direito de livre orientação sexual e identidade de gênero. Não adianta só bater o cabelão.

Esta sua resposta reforça a importância da construção de um movimento LGBT com autênticas raízes na dura realidade e nas necessidades deste segmento social vulnerável à discriminação, à violência homofóbica e a marginalização de cidadania. É inaceitável que neste contexto desolador ainda nos deparemos com a velha prática da correia de transmissão de outros grupos de interesse.
Sociedade brasileira à direita, à esquerda, acima e abaixo.
Assistam ao vídeo.