menu variado: de skinheads carecas do ABC a políticos tucanos.
A primeira vez que vi Marcelo Milani foi no Tribunal do Júri do Fórum da Barra Funda, em São Paulo. E isto lá vai para 11 anos, em 2002, quando assisti ao julgamento dos skinheads que lincharam e mataram Edson Neris em fevereiro de 2000, na Praça da República.
croqui do local do crime constante do laudo |
soco inglês usado para espancar Edson Neris |
Eu estava acompanhado de Beto de Jesus, então Presidente da Associação da Parada do Orgulho Gay de São Paulo, e de alguns outros militantes do movimento LGBT. Milani foi simpático comigo ao ser apresentado e conversamos rapidamente sobre a movimentação da imprensa e o interessa da opinião pública no caso. Um sujeito bem tranquilo, bonachão e de fala mansa.
Mas, logo que começou a sessão de julgamento Milani transformou-se em outra pessoa. Falava alto e firme e exibia, uma após outra, as provas do crime aos jurados: soco inglês, porrete, botas com bico de ferro, fotos etc. Mostrava de maneira contundente as marcas da violência que haviam ficado no corpo de Edson Neris. Deixou claro que ele fora abordado de forma covarde e não teve nenhuma chance de esboçar qualquer reação. Milani vociferava contra os réus ali presentes, encarando-os e apontando o dedo em riste. Senti me representado por um membro do Ministério Público que buscava a condenação daqueles monstros covardes e canalhas. O juri condenou 8 dos réus que foram presos e cumpriram pena.
acusados pelo crime |
acusados pelo crime |
Numa segunda vez que o encontrei, novamente na companhia de Beto de Jesus, foi em situação totalmente diferente. Estava passeando na praia de Boracéia, em São Sebastião, e parei para almoçar num restaurante de beira de estrada. Marcelo Milani estava lá numa mesa ao lado. Tranquilo, de bermudas, sandálias, acompanhado de familiares, num mês de janeiro escaldante. Falamos de amenidades num encontro rápido, que nada lembrou o aguerrido promotor público, caçador de skinheads neonazistas assassinos.
O tempo passou e não tive mais notícias do promotor público.
Mas, recentemente, com o estouro do escândalo da formação de cartel pelas empresas que participam das obras do Metro de São Paulo, envolvendo políticos do PSDB de São Paulo, escândalo este que começou no governo de Mário Covas no final da década de 90 e chega até os dias de hoje, ressurge a figura de Marcelo Milani. Ele é o encarregado das investigações realizadas pelo Ministério Público do Estado de São Paulo.
É certo que o Ministério Público de São Paulo tem recebido acusações de não ter dado importância e celeridade ao caso, cujos processos se arrastam há anos. Porém, graças às ações de órgãos federais, como o Cade e a Polícia Federal, novas luzes estão surgindo, para esclarecer o envolvimento de servidores públicos, empresários e, principalmente, políticos do PSDB de São Paulo. Nesta semana as autoridades da Polícia Federal fizeram declarações no sentido de que as investigações devem ser enviadas para o Supremo Tribunal Federal, uma vez que mencionam políticos com privilégio de foro.
O caso envolve as empresas Siemens, Alstom, Iesa, Bombardier, Tejofran, Temoinsa, TTrans e MPE, todas citadas na denúncia apresentada pela Siemens ao Cade.
Os políticos cujos nomes têm sido citados nos inquéritos, de acordo com o material divulgado pela imprensa, são o Senador Aloisio Nunes (PSDB SP) e o deputado federal Arnaldo Jardim (PPS SP). Outra pessoa citada é o secretário estadual tucano José Anibal. Houve também o indiciamento do vereador igualmente tucano Andrea Matarazzo. Tem acusação aí para todo mundo neste ninho.
Marcelo Milani declarou recentemente que o governo estadual de São Paulo pagou mais para reformar trens velhos de 40 anos de uso, do que teria investido se comprasse trens zero quilometro. O superfaturamento teria alcançado mais de um bilhão de reais.
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