sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Santinha

No último dia 03 de novembro Marlene de Toledo Piza de Mello, 69 anos, viúva, faleceu na Cidade de Santos, depois de uma parada cardíaca. Ela era minha mãe.

Não é à toa que era conhecida desde pequena pelo apelido de família Santinha, pois era realmente uma mulher dócil, de fala mansa, extremamente discreta e educada. Incapaz de ofender ou de ser agressiva e grosseira com quem quer que seja. Simpática, Santinha gostava de uma boa prosa.

Santinha  deixou três filhos, Eliana, Eduardo e Evandro, dois genros, uma nora e 4 netos. Deixou também sua mãe Lucinda, de 93 anos, a irmã querida Marisa, cunhados e cunhadas e vários sobrinhos e sobrinhas. Não é facil fazer o obtuário da própria mãe, principalmente quando a dor e a tristeza se misturam com a saudade, mas tudo o que está sendo escrito não consegue ser suficiente para retratar sua vida.

Santinha morreu com um tumor no fígado, que a levou em pouco mais de 2 meses, desde a data dos primeiros sintomas. Não sofreu nem sentiu dores. Uma morte boa para uma boa e grande mulher. Sentimos muito sua falta e isto vai demorar para passar.

Tenho fé que um dia irei reencontrá-la num lugar melhor, numa vida melhor e de um jeito melhor. Quanto a ela, podera' continuar sendo a mesma. 

Marlene de Toledo Piza de Mello - Santinha
* 14.07.1942     + 03.11.2011

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Fama de pegador boçal pode também prejudicar a imagem.

O jovem ator Caio Castro, o "Antenor" de Fina Estampa, acaba de cometer uma grosseria e boçalidade ao declarar em entrevista à revista Quem, de 23.11.2011 que “Se você não tem fama de pegador e é solteiro, fica com fama de veado. Então, antes pegador que veado, né?”.

Tá certo que o menino é novinho, não deve ter lá muito estudo, mas sendo uma celebridade, deveria ao menos cuidar para que assuntos como homossexualidade, religião e política devam ser tratados com certo cuidado.

Melhor seria se tivesse ficado calado. Qual o problema de ter fama de viado? a imagem? E aqueles que são viados e também seus fàs? Por outro lado, e a fama de grosseiro, preconceituoso, machista, homofóbico, não pode também prejudicar a imagem do bonitinho?

Eu, não gostaria de ter esta imagem por aí. O lazanha perdeu uma boa oportunidade de ficar calado.




terça-feira, 22 de novembro de 2011

UOL enfia pacote antivírus goela abaixo do assinante

Eu sou assinante do portal UOL Universo On Line desde 1996, quando dava meus primeiros passos rumo a navegação ampla na Internet. Desde então uso dois endereços, um para minhas atividades profissionais e outro para assuntos pessoais e de militância política.

Nunca tive lá muitos problemas com o UOL, mas também nunca precisei muito de seus serviços. No começo era mais difícil de trabalhar com eles e a prestação de serviços era ruim mesmo, mas isto era em todo local. Problemas com conexão, instalação, software e sistemas operacionais.

Aí, depois que as coisas melhoraram eles resolveram inventar uns pacotes. A gente compra uns pacotes e o custo é acrescido no valor da assinatura. Eu sempre tive bons pacotes mas sempre subutilizei-os. Pagava demais e usava pouco. E faiza isto meio de trouxa, sem saber direito. Quem se beneficiava mesmo eram as secretárias lá do escritório que ganhavam vantagens com redução do preço das entradas de cinema e teatro do Clube Uol. Eu mesmo nunca tirei vantagem de nada. 

Há cerca de uns 2 anos resolvi rever a conta do UOL, depois de muito ouvir de amigos e clientes que o valor estava alto demais, a velocidade da transmissão era pouca e eu poderia negociar melhor. Então, dadas as circunstâncias das vacas magras que se alojaram bem pertinho de mim, eu resolvi baixar o preço da assinatura. Então, depois de um longa maratona telefônica, e depois de explicar para mais de 10 pessoas que eu queria reduzir os pacotes, finalmente consegui atualizar a minha assinatura para algo bem mais barato e simples. A bem da verdade, nunca precisei muito dos serviços do UOL, nem dos seus pacotes. O que me interessa sáo os endereços eletrônicos, que os mantenho desde 1996.

Percebi, porém, que a vontade de enfiar os pacotes antivírus, back up e outras bugingangas do UOL está a pleno vapor. Noutro dia eu precisei ligar para lá, para pedir o envio do boleto, pois o meu havia se extraviado e a rotina foi a mesma. Primeiro foi um tal de me passar para setor disso, setor daquilo, setor de relacionamento, setor de falta de relacionamento, e coisa e tal. Depois de explicar que eu queria o tal boleto, e de eles me puxarem a orelha dizendo que eu poderia ter obtido o boleto pelo próprio site, finalmente fui atendido por uma moça bem gentil que me disse que estaria enviando o boleto por e.mail. No final, ela me perguntou se eu queria "degustar" um pacote antivírus/backup (degustar é usar gratuitamente) por um mês. 

De imediato eu disse que não queria o pacote, pois sabia como era o truque do pacote de graça. Você aceita o pacote gratuito, aí eles instalam, depois de 30 dias você não lembra mais disso, eles enttão passam a cobrar uns vinte pau da sua conta e isto fica para sempre por lá.  No meu caso, sei bem como isto funcionou anos a fio.

Eu recebi o tal boleto, paguei a conta e toquei a vida. Pois náo é que o UOL me liga outro dia pedindo para marcar uma data para instalar o pacote gratuito que eu havia autorizado? Eu expliquei para a moça que me ligou que eu náo tinha autorizado nada. E entáo ela me disse: entáo o senhor tem que ligar para a central e pedir o desligamento.

Puta que o pariu! Eu náo pedi aquela bosta de pacote, que daqui há pouco vai deixar de ser gratuito, e agora tenho que ligar para a tal Central para pedir o desligamento. Eu xinguei a moça, mas tive que ligar. Liguei e falei com Flávia, Carolina, Augusto e o raio que o parta. Finalmente consegui me ver livre de algo que nunca pedi.

Por que esta prática tão nociva não é penalizada de maneira mais contundente? Já pensou que a cada coisa dessas o prestador de serviços tenha que pagar uma multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais)?

Com tanta coisa boa para escrever e falar e se preocupar, tenho que ficar aqui dando pau no UOL, da Folha de Sáo Paulo, que não tem rabo preso com ninguém, mas se bobear enfia no dos outros, de boa.

Chega!

domingo, 20 de novembro de 2011

A pergunta que não quer calar: ZUMBI ERA GAY?

Hoje, no dia de comemoração da Consciência Negra no Brasil, data que Zumbi dos Palmares foi assassinado em  1695, transcrevo abaixo o artigo do antropólogo Luiz Mott, que faz um questionamento sobre a possível homossexualidade de Zumbi dos Palmares, citando 5 (cinco) pistas nesta direção. Este artigo foi publicado em 1995, no terceiro centenário da morte de Zumbi, e teve reacões de alguns segmentos do movimento negro, revelando grande intolerância e homofobia de pessoas que, em tese, deveriam agir exatamente de forma contrária. Além de trazer questionamentos sobre a orientação sexual de Zumbi, este artigo é também um bom teste sobre a tolerância de lideranças do movimento negro. Qual o problema de Zumbi ter sido gay? Ele seria menos herói, menos negro, menos lider? Com certeza, a resposta será sempre não.

Este artigo foi republicado no livro do mesmo autor, Crônicas de um gay assumido, Editora Record, 2003, p. 155-160 e agora o faço aqui também em memória de Zumbi e em comemoração ao Dia da Consciência Negra no Brasil.

Viva Zumbi dos Palmares!


ERA ZUMBI HOMOSSEXUAL ?



Zumbi dos Palmares, lider quilombola e guerreiro negro.

Luiz Mott
(in Mott, Luiz. Crônicas de um gay assumido. Rio de Janeiro, Editora Record, 2003, p. 155-160)


Digo e repito: raramente foi Luiz Mott quem levantou a lebre pela primeira de que personagens históricos ou celebridades nacionais eram praticantes do amor que não ousava dizer o nome. Como leio muito, pesquiso sem parar e arquivo tudo o que encontro sobre homossexualidade, ao divulgar que Cássia Eller também gostava do babado, que Mazzaropi era gay, que Collor idem - estou simplesmente repetindo o que outros autores já publicaram em livros, revistas ou jornais ou faz parte de nossa história oral. Ontem mesmo tive uma enorme surpresa ao ler num jornal que um historiador mineiro declarou que Tiradentes também "jogava água fora da bacia" - embora ainda não tenha conhecimento de seus argumentos. Quem tiver alguma pista, me avise!

Com Zumbi a coisa foi assim: um famoso historiador gaúcho, Décio Freitas, autor de não menos célebre livro sobre o Quilombo de Palmares, declarou a outro historiador, Mario Maestri, especialista em escravismo colonial, que só não escrevia que Zumbi era gay porque tinha medo da reação do movimento negro.

Fiquei com a pulga atrás da orelha, pois nunca tinha imaginado que o herói negro pertencesse ao batalhão dos amantes do mesmo sexo. Comecei a pesquisar as biografias de Zumbi e acumulei 5 pistas que sugerem maior identificação de Zumbi como homossexual do que como heterossexual. Portanto, à indagação: era Zumbi Homossexual? a resposta é: provavelmente sim! Zumbi dos Palmares deve ter praticado “o amor que não ousava dizer o nome”.

Dispomos até agora de cinco pistas que sugerem sua homossexualidade, enquanto não há nenhuma prova definitiva de que o líder quilombola era heterossexual. Desafio qualquer historiador a comprovar, com documentos da época, que o maior herói negro das Américas teve alguma mulher ou filhos. Não passa de mera presunção e miopia sexológica imaginar que o simples fato de ter sido guerreiro valente serviria como prova de que sendo do sexo forte, gostava do sexo frágil. Ledo engano: o maior general da Antigüidade, Alexandre Magno, também foi grande em seu amor pelos rapazes. O famoso “Batalhão dos Amantes de Tebas”, todo ele formado de pederastas, destacou-se por sua inigualável valentia. Frederico o Grande da Prússia e Lawrence da Arábia, entre muitos outros, são exemplos mais recentes de que muitos homossexuais foram notáveis guerreiros. Portanto, não há qualquer incompatibilidade entre Zumbi ter sido guerreiro retado e amante do mesmo sexo.

Insisto: não havendo nenhuma prova da heterossexualidade de Zumbi, apresento aqui quando menos cinco pistas que sugerem que provavelmente Zumbi dos Palmares era “chibungo” (termo de origem angolana, corrente na Bahia atual, sinônimo de homossexual masculino). Tais indícios juntos valem mais do que documento nenhum sobre sua improvável heterossexualidade.

Primeira pista: não há evidência alguma comprobatória que Zumbi teve mulher ou filhos. Para um grande chefe guerreiro, a poligamia era privilégio indispensável. Ganga-Zumba, tio putativo de Zumbi, teve três mulheres, sendo duas negras e uma mulata. Porque Zumbi abriria mão deste cobiçado prêmio, considerando que devido à carência de mulheres, os quilombolas da Serra da Barriga tinham de contentar-se com uma mulher para vários homens? Como informa o historiador negro Joel Rufino, “os brasileiros sempre acreditaram que os negros famosos e ricos devem se casar com brancas”, tanto que autores mais românticos inventaram uma mulher branca para o líder dos Palmares. ”Legenda romântica...” conclui o mesmo autor.

Segunda pista: Zumbi era conhecido por um intrigante apelido: SUECA. Esta informação é confirmada por Clóvis Moura, outro respeitado historiador negro. Segundo o dicionarista Antônio Morais, que viveu em Pernambuco no século seguinte à epopéia palmarina, “sueca” já naquela época tinha o mesmo significado de hoje: “mulher natural da Suécia”. Por que um negão, valoroso guerreiro, seria chamado por nome feminino? Debaixo deste angu tem carne! Nesta mesma época encontramos alguns homossexuais denunciados à Inquisição Portuguesa que também eram chamados por apelidos femininos: “A Galega”, “A Bugia da Alemanha“, inclusive um sodomita negro do Benin que apesar do nome batismal de Antônio, jogava pedra em quem não o chamasse de “Vitória”. “Sueca” é apelido mais adequado para um hétero ou homossexual?

Terceira pista: Zumbi, que ficou coxo num acidente de batalha, descendia dos Jagas de Angola, etnia onde a homossexualidade tinha numerosos adeptos, os famosos “quimbandas”, conforme atestam contemporâneos da guerra dos Palmares, entre eles o Padre Cavazzi e o Capitão Cadornega. Se até em sociedades repressivas e anti-homossexuais o homoerotismo tem batalhões de adeptos, nada mais lógico que também no quilombo de Palmares, onde havia grande falta de mulheres, os “quimbandas” fossem aceitos com naturalidade, como ocorre em muitas comunidades onde há desequilíbrio dos sexos, e que Zumbi também fosse amante de um deles.

Quarta pista: Zumbi, descrito como possuidor de “temperamento suave e habilidades artísticas”, antes de fugir para o mocambo, até os 15 anos, foi criado pelo Vigário de Porto Calvo, Padre Melo, referido como “afeiçoado a seu negrinho”. Ora: nos tempos inquisitoriais a homossexualidade era chamada, com razão, de “vício dos clérigos”, tantos eram os padres envolvidos com as práticas homossexuais. 1/3 dos condenados pela Inquisição pelo pecado de sodomia eram padres. Muitos destes tendo como cúmplices exatamente seus escravos , crias da casa. Os retornos de Zumbi à casa de “seu” padre, depois de tornado quilombola, revelam uma relação profunda que superou as diferenças de raça, classe e idade. “Diz-me com quem andas, que direi quem és...” diz o ditado popular.

Quinta pista: dizem os estudiosos que Zumbi, ao ser preso e executado, a 20 de novembro de l695, foi degolado “sendo castrado e o pênis enfiado dentro da boca”. Macabra coincidência: o Grupo Gay da Bahia dispõe de um volumoso dossier de assassinato de homossexuais brasileiros, onde constam 5 gays, dois em Alagoas, o mesma região onde castraram Zumbi, que foram encontrados mortos exatamente como o chefe quilombola: com o pênis dentro da boca. Uma forma antiga e simbólica de humilhar os “falsos ao corpo” que por não terem usado adequadamente seu falo, tornaram-se merecedores de engoli-lo na hora da morte.

Enquanto não se provar o contrário, com o exigido rigor documental, estas cinco pistas permitem-nos afirmar que o grande Zumbi dos Palmares provavelmente era amante do mesmo sexo. Longe de desmerecer a valentia do maior líder negro do Novo Mundo, tais pistas aumentam-lhe a glória, pois ainda hoje, só cabras muito machos têm a coragem de assumir o amor por outro homem. Baseando nestes fortes indícios, o Movimento Homossexual Brasileiro participou orgulhoso e solidário, ao lado de todos os negros, mestiços e brancos anti-racistas, das comemorações do terceiro centenário da morte de Zumbi (1995) herói negro e provavelmente, depois de Alexandre Magno, o homossexual mais valente de toda História Universal.

Post Scriptum: Por causa deste artigo, publicado em diversos jornais na época daquelas celebrações em 1995 , os muros de minha casa foram pichados e os vidros de meu carro quebrados por alguém que considerou um ultraje um herói negro ser amante do mesmo sexo. Vários líderes negros me condenaram por estar "denegrindo" (sic) a imagem do líder quilombola, outros chegaram a dizer que homossexualismo era coisa de branco e que não existiam gays e lésbicas na África.

Felizmente fui apoiado por grande número de intelectuais e políticos, negros inclusive, que consideraram politicamente incorreta a reação machista e preconceituosa destes negros opondo-se à possibilidade de Zumbi ter sido gay e absolutamente condenável a violência cometida contra mim. Estas reações negativas comprovam o acerto da pesquisa da Data-Folha divulgado no primeiro capítulo deste livro: os negros e afro-descendentes são mais conservadores sexualmente do que o resto dos brasileiros. Conservadorismo ao menos na teoria - e na falação - pois na prática, tenho minhas dúvidas, pois a quantidade e soltura dos gays, lésbicas, travestis e bissexuais negros contradiz a sexofobia e homofobia manifestadas no tricentenário de Zumbi.

Luiz Mott

luizmott@oi.com.br
Fone: [71] 9128.9993 - 3328.3782